- João Vicente
Como surgiu o Império Bizantino? Parte III (os primeiros passos)
Atualizado: 25 de abr. de 2021
De uma forma geral, o Império Romano Oriental e Bizantino saiu do período das grandes invasões bárbaras relativamente ileso. O período das invasões germânicas para essa parte do Império acabou em 476. Nesse ano, o Imperador Zenão conseguiu enviar os ostrogodos, que haviam se estabelecido na Trácia, para o Ocidente.
Como surgiu o Império Bizantino? Parte I (transformações e reformas do quarto século)
Como surgiu o Império Bizantino? Parte II (a ascensão do Cristianismo)
Apesar de algumas invasões danosas nas suas províncias balcânicas, o Império do Oriente não havia perdido nenhuma milha de território para os reinos germânicos. Isso se deve a situação econômica altamente superior e a coesão territorial e política que o Império Romano Oriental conseguiu manter, enquanto o Ocidental empobrecia, desgastava-se em divisões políticas e perdia controle de suas províncias para uma elite fundiária que tirava os camponeses do alcance do fisco imperial.

Imperador Anastasio (491-518) retratado no chamado “Diptico de Barberini”
Com o fim das grandes invasões, o Império Bizantino pode se dedicar a reformas necessárias. O imperador Anastácio (491-518) reformou o sistema monetário bizantino e criou uma moeda de bronze para transações cotidianas com valor estável, o follis. Pondo o fim, desse modo, com círculo vicioso de inflação galopante que já durava séculos.
O exército bizantino passou a depender menos de mercenários estrangeiros e suas forças adquirem um caráter mais nativo com a absorção das tropas pessoais da elite fundiária conhecidos como bucelarii, os comedores de biscoito. No entanto, a mudança mais marcante foi a volta da importância da capital imperial.
Desde o século III, a instituição imperial estava desapegada a Roma. Com as guerras civis e invasões estrangeiras, o centro do Império passou a ser o local onde o imperador estava. A refundação da antiga colonia grega de Bizâncio com o nome Constantinopla por Constantino I, em 337, não mudou automaticamente essa situação. Os imperadores das dinastias constantiniana (305-363), valentiniana (364-392) continuaram a habitar outros lugares e Constantinopla tinha de competir com centros urbanos tradicionais, como Alexandria e Antioquia.
A partir do século IV, os imperadores da parte oriental do Império passaram a se fixar mais fortemente em Constantinopla, até que gradativamente firmou a ideia – que perdurou até 1453 – de que o imperador romano era aquele que estava sentado no trono de Constantinopla. Por essa ligação com a cidade, a antiga Bizâncio, que a parte oriental do Império Romano passou a ser conhecida depois de sua queda como Império Bizantino.
As últimas grandes reformas institucionais que marcaram essa nova fase foram realizadas pelo famoso imperador Justiniano (527-565). Entretanto, devido sua fama, esse imperador merece uma entrada só para si.
Leituras recomendadas:
RICHE, Pierre. As invasões bárbaras, Lisboa, Ed Europa-América, 1979.
TREADGOLD, Warren. Uma breve história de Bizâncio, Buenos Aires, Paidos Editora, 2001.